segunda-feira, 14 de julho de 2008

Trabalho de Filosofia da Religião II - Paganismo e Filosofia: Uma ênfase à bruxaria Wicca e a desmistificação de preconceitos cristãos

Este trabalho visa o esclarecimento do paganismo na forma da bruxaria, mais especificamente à bruxaria Wiccana, uma antiga religião, na qual filosofia básica fundamenta-se nos caminhos da Natureza, e a compreensão da espiritualidade pela humanidade é revelada por um sentido de comunidade saudável. É nessa estrutura sustentadora de códigos de conduta, cortesia comum e respeito pelos outros que a essência de nossa espiritualidade pode ser compreendida.

Essencialmente, a filosofia da Wicca emana da antiga visão de que tudo foi criado pelos Grandes Deuses (a partir da mesma fonte procriadora) e de que tudo possui uma “centelha divina” de seu criador. Na Criação, ensina-se que existem quatro “Reinos”: Mineral, Vegetal, Animal e Humano, cada um deles expressão ou manifestação da Consciência Divina. Almas individuais atravessam esses Mundos, adquirindo conhecimento e experiência, movendo-se rumo à reunião com a Fonte de Todas as Coisas. Num certo sentido, pode-se dizer que as almas vivenciando o plano físico são como sondas conscientes enviadas pelo Criador Divino. Da mesma forma, pode-se dizer que as almas são como os neurônios na mente do Divino Criador, entidades individuais que formam parte de um todo.

Todas as formas de vida são respeitadas na Antiga Religião. Tudo possui igual importância. A única diferença é que as coisas estão meramente em diferentes níveis de evolução dentro dos Quatro Reinos. Os humanos não são mais importantes do que os animais, que não são mais importantes do que as plantas e assim por diante. Vida é vida, não importa que forma física ela adote em um determinado tempo. Somos todos parte da mesma criação e tudo se conecta e se une.

Ao estudar os Caminhos da Natureza, obtém-se uma visão (por mais crua que seja) dos Caminhos Divinos e, a partir destes, podemos ver o retorno das estações (reencarnação) e as leis de causa e efeito (karma) ligados ao uso (bom ou mal) da terra, do ar, dos recursos naturais e das criaturas vivas. Esse é um dos propósitos dos rituais sazonais, pois tais ritos nos saturam e nos harmonizam com a essência concentrada da Natureza nesses períodos determinados. Quanto mais acumulamos nas marés sazonais da Natureza, mais nos tornamos iguais a ela. Ao nos tornarmos como a Natureza, fica mais fácil compreende-la.

Todos já experimentamos o prazeroso sentimento de proporcionar bem-estar a outra pessoa, e o sentimento de culpa ou de egoísmo ao darmos mais importância a nós do que a um amigo ou ser amado. Todos experimentamos o sentimento de aceitação e reconhecimento num grupo, assim como a dor da rejeição. Até mesmo quando obtemos prazer ou alegria solitariamente sentimos a necessidade de compartilhar esse sentimento com outra pessoa de algum modo. Disso surge o ensinamento de servir aos outros, pois os Wiccanos sempre foram os conselheiros ou curandeiros locais.

No que concerne ao ensinamento do relacionamento de uma alma a outra, sabemos que os antigos criam numa raça de deuses que observavam e interagiam com a humanidade. Para os antigos, um deus podia representar qualquer força da natureza singular, aparentemente independente, cujas ações podiam se manifestar na forma de tempestades, tremores de terra, arco-íris, belas noites estreladas e assim por diante. À medida que o esclarecimento e a intelectualidade dos humanos cresceu, também cresceu o conceito dos deuses.

Os Wiccanos geralmente vêem seus deuses como seres cuidadosos e benevolentes, num papel semelhante ao de um amável pai ou mãe (apesar de muitos Neo-Wiccanos encararem o Deus e a Deusa como conceitos metafísicos em vez de aspectos da Consciência Divina). Um pai ou uma mãe cuidam em certos aspectos de uma criança, mas devem basicamente ensinar a criança a se preparar para viver sua própria vida. Ao correr de seu relacionamento, a criança nem sempre entenderá os atos de seus pais. No entanto, ainda existirá uma relação, e esta requer compreensão mútua e comunicação para que um espírito amoroso floresça.

Por vezes, uma criança pode achar que o pai ou a mãe são injustos ou pouco amorosos, sem compreender que o pai deve estabelecer limites e regras de comportamento para o próprio bem da criança. Regras e limites existem na Natureza e são essenciais para a formação de raciocínio e comportamento maduros (“assim na terra como no céu”). Ainda assim, não é crença entre os Wiccanos que os deuses coloquem obstáculos ou tragédias no caminho dos humanos, tampouco que tenha o costume de testar a fé humana. É a lei do Karma, e o azar de fatos aleatórios, que manifestam o que compreendemos como as agruras e dificuldades da vida. São os deuses que se mantêm a nosso lado e nos auxiliam a encontrar a força de que precisamos para prosseguir.

Um dos maiores dogmas de crença na Antiga Religião é o de aceitar as responsabilidades por nossos próprios atos. Nós fazemos ou destruímos nossas próprias vidas, e ativamos ou desativamos nosso próprio “quinhão” na vida. Os Deuses estão a postos para nos auxiliar, mas nós é que devemos realizar o trabalho. Até mesmo quando fatos aleatórios ou o Karma aparentemente nos alquebram, somente nós é que podemos lutar para continuar.

De acordo com a tradição dessa religião se pode aprender muitas coisas que as outras religiões não conseguem superar. Não desprezam as crenças de outrem, buscam viver em harmonia com os que discordam de suas crenças, são sinceros com seus próprios conhecimentos e lutam para se afastar do que se opõe dentro de si próprio

Neste emaranhado de paganismo situo o filósofo alemão Nietzsche. Uma afirmação de Nietzsche que me chamou a atenção para com os estudos sobre o paganismo diz que é a alegria mais profunda que a dor, que a alegria quer profunda, profunda eternidade. Como todos os pensamentos culminantes e fecundos dos grandes mestres, isto não significa coisa nenhuma. E por isso que teve tão grande ação nos espíritos: só no vácuo total se pode pôr absolutamente tudo.

Nietzsche, neste momento das suas considerações, volta-se então para as suas tão apreciadas comparações entre o mundo pagão e o mundo cristão. Enquanto os gregos e os romanos, para ele, empregaram e mobilizaram as forças do espírito e do engenho deles no sentido de aumentar, por meio de incontáveis cultos festivos e folguedos outros - dionisíacas, bacantes, saturnais e lupercais - a alegria de viver. O cristianismo, o revés, empregou uma energia redobrada num outro sentido. As procissões e cortejos religiosos, da fé que veio a superar o paganismo, dirigiam-se, sobretudo no sentido de fazer com que os crentes se sentissem como uns perpétuos desgraçados.

Com relação ao cristianismo, a cultura da religião wicca foi agregada de forma clara. A própria Virgem Maria só foi incorporada ao Cristianismo 400 anos depois do "nascimento" de Cristo. Será que eles perceberam que o culto a uma Deusa Mãe jamais iria morrer, então resolveram adotar isso também? Não é à toa que as santas católicas são mais adoradas do que seu próprio Deus (vide exemplo nacionais mesmo, como a Nossa Sra. Aparecida ou Nossa Senhora De Fátima, entre tantas outras).

A Igreja Católica sempre mentiu, e o Cristianismo sempre quis acabar com o Paganismo desde os primórdios. Chegaram a uma terra que não era deles (como sempre fizeram - vide as invasões, as Cruzadas, as histórias dos jesuítas) e queriam converter todos os povos à sua religião. Isso não é nem um pouco louvável. Como se não bastasse, no auge da sua loucura, torturaram, queimaram e enforcaram milhões de pessoas inocentes da época da "Santa" Inquisição, tudo porque não seguiam o que eles chamavam de "religião verdadeira".
Até hoje, o preconceito é enorme. Se você não é cristão, para eles automaticamente você é anti-cristão, e logo eles partem para agressões psicológicas e tentam lhe convencer de que você "só conseguirá se salvar se for para Jesus". É patético. Tais pessoas deveriam estudar muito história antes de sequer vir conversar com pagãos ou qualquer pessoa de qualquer outra religião. E, mesmo que sejam estudadas, deveriam recomeçar do zero e estudar tudo de novo, para aprenderem a ter respeito pelos seus semelhantes, como eles tanto pregam, mas pouco fazem.

Todos os grandes líderes espirituais de quaisquer religiões foram pessoas pacíficas, porém não reacionárias. Seus ensinamentos só permanecem em nossa sociedade porque agregam um valor imensurável à vida cotidiana.

Então podemos (e a meu ver, devemos) promover uma revolução com nossas atitudes e, assim, mostrar que temos nossas crenças, que elas podem até parecer estranhas (sob o ponto de vista do eixo cristão), mas que somos todos seres divinos, portadores da chama da natureza; sendo assim, respeitamos e merecemos respeito.

Ainda existem muitos mitos e fantasias que encobrem a verdadeira essência da bruxaria, que é uma religião em que os praticantes são seres independentes, que não precisam pedir perdão de seus pecados, porque sabem que todo ato mau tem uma resposta nesta vida ou na próxima.

O fanatismo é repudiado pelos pagãos, assim como o proselitismo é inadmissível. Bruxos nunca divulgaram sua Religião porta a porta. São extremamente discretos, pois acreditam que a aproximação à Bruxaria deve resultar de uma escolha individual.

Tolerância e respeito com relação a outras práticas ou crenças religiosas é um dogma wiccaniano "faça o que desejar desde que não prejudique a ninguém".

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