segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Um anjo brando

Enquanto eu caminhava
Encontrei um anjo brando
Ele era calmo e sereno
Fazia as pessoas sorrirem
Tinha uma paz interior inexplicável
Não perdi tempo
Esmaguei sua cabeça
Arranquei seu crânio
Comi seu cérebro
Bebi seu sangue
Todos se espantaram
Ao me ver rindo sozinha
Manchada de roxos
Espancada de amores

(13/03/2001 – 20:01)

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Uma pessoa triste

Uma pessoa triste é apenas
Que tem mágoa ou aflição
Cheia de melancolia, infeliz
Abatida, deprimida
Que infunde tristeza
Severa, grave
Enfadonha
Insignificante

(27/11/2001)

Solidão

No silêncio de um quarto
Percebo a solidão
Está presente
Em uma nublada madrugada
A lágrima lembra um distante amor
O sorriso lembra uma ferida dor
Sentado em um banco de três pernas
Escrevo sozinho com temor
Tenho medo de ser só
Não te tenho, oh amor!

(04/02/2000)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Metade - Adriana Calcanhotto

Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim...

Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será que você está agora?...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Grrrls - garotas iradas

"Ao eliminar seu lado masculino, adotando um papel tido pela sociedade como tradicionalmente feminino, a mulher já está praticando um ato de mutilação. A mater dolorosa que espera em casa, a esposa cordata que apanha calada e a namorada bonitinha, certinha e virgenzinha, na verdade, passam a vida se castrando."

"Por que querer que as pessoas sigam um padrão de vestimenta e comportamento tão careta, tão quadrado e tão uniforme?
A fantasia é direito inexpugnável de cada um. Mesmo não sendo lady, nem sapatão, nem drag king, nem lesbian chic, é direito de uma mulher ser o tipo que ela quiser, vestir a roupa que preferir e até mesmo ser isso tudo junto ou de um jeito diferente a cada dia da semana."

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Dostoiévski - um jogador compulsivo

O livro O Jogador é, ao mesmo tempo, autobiográfico, genial e uma das mais perfeitas histórias literárias já contada por um ser humano.

Fiodor Mikaílovich Dostoiévski

Nascimento- 11 de novembro de 1821, em Moslovo.

Falecimento- 9 de fevereiro de 1881, em São Petersburgo.

Seu primeiro contato com a roleta - Dostoiévski era jogador compulsivo

O francês Louis Blanc, fundador do jogo da roleta organizado, proibido de continuar explorar seus cassinos em Paris, ambicionou a Alemanha, montando quatro casas famosas de jogos nas cidades de Homburg, Wiesbaden, Baden-Baden e Ems.

Daí começou a famigeração e o vício coletivo, destrutivo, algoz. Com seu prestígio, manteve suas casas de jogos até 1868. Até que uma lei federal, não obstante todo o prestígio do maldito “cassineiro”, interditou e fechou seus cassinos em todo território alemão.

Esse homem, francês terrível e inescrupuloso, com o apoio do príncipe Carlos de Mônaco, fundava então seu mais extraordinário e famoso cassino na cidade de Monte Carlo.

Os russos tornaram-se freqüentadores assíduos do chamado balneário, que na verdade nada fazia para relaxamento do corpo, muito pelo contrário, saiam desmoralizados, corpos em frangalhos, bolsos vazios. Quando não ficavam por lá mesmo, debaixo da terra.

Dentre esses russos viciados, esse maldito francês arrebanhou nosso querido e inestimável Fiodor Dostoiévski, que se deixou seduzir pelas roletas, pelo fascício dos panos verdes, um paradoxo para um dos maiores escritores do planeta, se não for o maior, ao menos no quesito só idéias geniais para romances, já que é constatado que é o escritor de mais proliferação de idéias que uma mente humana poderia ter para literatura. Essa informação é oficial no mundo inteiro, querido leitor.

Certamente haveremos de prestar reverências eternas a Dostoiévski, autor de Crime e Castigo, Os irmãos Karamazov, Noites Brancas, Memórias do Subsolo, O Idiota, O Crocodilo, Nietotchka… (quero ler toda sua obra antes de partir).

Atormentado em toda sua vida, desde jovem preocupava-se com questões materias, em meio a turbilhão de conflitos internos e espirituais. Mas sabe-se também que sua queda para jogo já vinha de há muito, pois passou a juventude a jogar dominó e bilhar, sempre em busca de lucros. Talvez desta forma tentasse fugir de sua mente gigantescamente criativa, uma alucinada máquina de criar.

Desde que voltara da Casa dos Mortos (um de seus primeiros romances), trazendo sua mulher, uma franzina e tísica viúva louca, com o filho desta, e sofrendo terrivelmente com sua epilepsia, migrar para a Europa Ocidental, tornou obsessão do escritor de O Jogador.

Escrevia milhares de artigos, mas estava sempre com dívidas. Assim, no dia 7 de junho, deixou sozinho a Rússia, com algum dinheiro adiantado por seus próximos romances.

Viaja por países como França, Inglaterra, Itália, Suíça, Alemanha. Deslumbra-se com o pano verde das jogatinas. Ingênuo ainda, joga e ganha bastante dinheiro.

Esse é um trecho de uma curiosa carta que Fiodor Dostoiévski escreve à cunhada de Paris após contato com a roleta:

Durante quatro dias observei as mesas de perto. Havia ali centenas de jogadores, mas, palavra de honra, só duas pessoas sabiam jogar! Era uma francesa e um lord inglês. Entendiam do jogo e nunca perdiam, pouco faltando para rebentar a banca. Peço-lhe, não creia que eu estava radiante de alegria porque acabava de ganhar em vez de perder, que eu me julgue um grande conhecedor do segredo do jogo. Esse segredo, aliás, bem o sei, é o que há de mais simples e estúpido. É preciso unicamente domínio sobre si mesmo e, sejam quais forem as peripécias do jogo, a gente evitar o entusiasmo excessivo. Eis tudo. Esta regra impedirá você de perder, fazendo-lhe necessariamente ganhar.

Daí pra frente, só sofrimento e miséria, por dez anos esse vício, mais sua doença incurável, fizeram de Dostoiévski um sofredor, mas o gênio fez de toda essa amarga odisséia sua fonte de inspiração literária.

Na continuidade, falarei do referido livro - O Jogador - e verão como essa inspiração divina se manisfestava, e como esse miraculoso processo inspirador excitava as mais profundas e ultra-sensíveis fibras de criação do escritor.

Não por acaso, Fiodor Dostoiévski é o escritor de maior número de obras literárias que se obteve de um cérebro humano.

Autores que tiveram influência de Dostoiévski

  • Marcel Proust
  • Franz Kafka
  • Albert Camus
  • Nietzsche
  • Sartre
  • Freud
  • Yukio Mishima
  • Aleksandr Solzhenitsyni

Um gênio que fez de suas mazelas, fonte de inspiração, quando qualquer mortal se abateria em fracassos, debatendo-se em desespero.

Mas gênio é gênio.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cheiro do tempo

É como se o cheiro do tempo existisse.
E essa experiência só acontece nos primeiros dias realmente quentes depois do inverno.
Assim como nos livros, que sinto o cheiro, por exemplo, de Antióquia e de New Orleans.
Acontece na realidade.
Hoje consigo lembrar de tempos remotos.
2, 5, 8 anos atrás.
Sempre existiu esse cheiro dos primeiro dias quentes depois do inverno.
E ele me comove de uma forma extrema.
Sinto como se a vida fosse mais vital.
E fico a viajar de cara.
Como se o cheiro conseguisse transpor o tempo.
Tantas transformações na vida de uma pobre sensitiva.
Isso tem a ver com o solstício que toca seres dessa natureza.
Que sentem a natureza que interfere na vida.
Natureza que faz a vida ser o que ela é.

sábado, 6 de setembro de 2008

Mechanical Animals

O álbum Mechanical Animals chegou a ser apresentado nos tribunais como uma das armas do crime na época em que Marilyn Manson era acusado pelo massacre de Columbine. Quanto a sua parcela de culpa no massacre Manson é enfático: Claro que sou culpado. Mas quem não é? E suas palavras: “Os tempos não se tornaram mais violentos. Apenas se tornaram mais televisivos. Alguém acredita que a Guerra Civil foi minimamente civil? Se a televisão existisse na altura com certeza que teria lá estado para cobrir o acontecimento, ou até mesmo participar nela, como na violenta perseguição automóvel ao carro da Princesa Diana. Quando chega a interrogação de quem foi a culpa dos assassinatos do liceu em Littleton - Colorado, atirem uma pedra ao ar e acertarão num culpado. Nós somos as pessoas que se refastelam e toleram crianças possuindo armas e somos as pessoas que sintonizam e observam as detalhadas noticias “ao vivo”, daquilo que fazem com essas armas.”

Manson sempre foi um grande inimigo dos hipócritas valores protestantes que os Estados Unidos representam. Pessoas bem vestidas e com a bíblia na mão falando mal do sexo e da violência enquanto dão audiência aos Mais procurados da América e assinam e se masturbam assistindo o canal da Playboy. Pessoas que no discurso defendem a liberdade, mas que na prática quer que todos sejam brancos héteros e cristãos.

Mas verdade seja dita, quem viu Marilyn Manson no Brasil pela última vez, percebeu o quanto ele está mudado é nem sombra do que foi um dia.