terça-feira, 1 de julho de 2008

Filosofia da Religião – Resenha de “Crepúsculo dos Ídolos”, Nietzsche



Em nossos tempos, o pensamento, confortado com desconcertantes e inauditos cenários, vê-se instigado a estabelecer conexões capazes de produzir um novo solo para a reflexão filosófica a criar redes conceituais suficientemente potentes para acolher a complexidade específica à situação atual.

Conectando diversos tempos, atravessando diferentes campos do pensamento, configurando novos objetos de investigação, procurando, enfim, ultrapassar os limites do até então pensável, nós filósofos temos o dever de pensar o impensável, de não nos limitarmos pelas dificuldades e pela repressão dos ditos moralistas.

Temos que identificar falsos problemas, questões mal colocadas e apostar na perda de parâmetros como um verdadeiro convite à alegria de sua própria reinvenção. Temos que “desmascarar” todos os preconceitos e ilusões do gênero humano, ousar olhar, sem temor, aquilo que se esconde por trás de valores universalmente aceitos, por trás das grandes e pequenas verdades melhor assentadas, por trás dos ideais que serviram de base para a civilização e nortearam o rumo dos acontecimentos históricos. Não devemos nos prender somente ao que já foi pensado, muito pelo contrário. Concordaremos, discordaremos e/ou acrescentaremos algo no pensamento dos filósofos anteriores.

Em “Crepúsculo dos Ídolos”, o autor Friedrich Wilhelm Nietzsche, descreve seu livro como “uma grande declaração de guerra”. E de certa forma esta é uma “guerra” contra a moral, contra o pensamento religioso estagnado no nada, de forma que choca até hoje quem o lê.

Colocando os juízos de valor sobre a vida como imbecilidades, o autor nos demonstra que tais valores nem sequer existem. Esses valores tratados pela religião como um todo, são apenas sintomas da doença da ilusão da realidade. Pois o real valor da vida não pode ser avaliado por meros mortais. Sendo seres viventes, sendo parte da vida, não podemos julgá-la. Não somos juízes do além e muito menos os mortos julgam alguma coisa.

Entra aqui o valoroso papel do filósofo. Ele se encontra arrebatado pelo sofrimento de estar vivo e compreender a decadência dos que julgam a vida. Mas é por isso, pelo fato de ser filósofo e compreender este além da vida, que o filósofo não se cala, sente a angústia de compartilhar o que raramente alguém poderia pensar.

Um pensamento interessante em “Crepúsculo dos Ídolos” é a associação que Nietzsche fez entre a felicidade e os instintos em uma vida em ascensão. Ele trata a felicidade como sendo igual aos instintos, como dependente direta dos instintos humanos. E isso é radicalmente contraposto ao pensamento religioso, que impõe que os instintos precisam ser combatidos, limitados, podados. Se os instintos são essenciais à vida, então fica claro que o pensamento religioso é algo contranatureza humana. A religião ao pregar a vida eterna feliz, acaba pregando a vida presente mortificada pelo marasmo do controle da vivência natural de Ser. Desta mesma forma acontece com os sentidos. Para não sofrer, o pensamento religioso combate as paixões suprimindo (Nietzsche usa os termos “castrando” e “extirpando”) os sentidos de forma antinatural, já que os sentidos são essenciais à vida.

E como tratar o pensamento religioso acerca das paixões? A igreja primitiva lutou contra os “Inteligentes” em favor dos “pobres de Espírito”: como seria possível esperar dela uma guerra inteligente contra a paixão? Então a “espiritualização da paixão” não cabe de forma alguma no mesmo patamar que a religião. Ao invés de espiritualizar a paixão, os religiosos preferem suprimi-la. Pois as paixões causam alegrias, mas principalmente causam tormentos e sofrimentos. O papel do pensamento religioso aqui é atacar o sofrimento em sua raiz para evitar que o ser humano sofra. Mas, sendo o sofrimento algo natural à vida, o que fica claro é que atacar o sofrimento na raiz é o mesmo que atacar a vida na raiz. Então “a práxis da igreja é inimiga da vida...”.

Levando mais em conta agora o cristianismo, percebemos ao analisarmos o “Crepúsculo dos Ídolos”, que a confiança em Deus existe porque o sentimento de plenitude e de força entrega o indivíduo à quietude, à obediência, à servidão e todos esses adjetivos de decadência. Possui uma moral de comando, na qual seu servo não pode errar por medo de um além mau, por medo de um castigo eterno. O pensamento religioso trata-se de uma libertação escravizada pela razão (teologia), que só faz apertar-lhe os grilhões, enclaustrando a vida humana digna e livre.

Sobre isso, meus senhores, não vale á pena criticarmos mais gastando tempo e tinta, pois para o decadente cristão seu Deus e sua moral não podem ser criticados, são verdades desde sempre estabelecidas. E já que estão satisfeitos com sua forma subserviente de vida, só o que tenho a fazer é deixar noticiado esta forma sub-humana de viver.

8 comentários:

Anônimo disse...

ridículo. kkkkkkkkk.
A Igreja daquela época, tenho que admitir, era para ser batida de frente mesmo. Mas, você critica dizendo que é uma forma sub-humana de viver. É mesmo? E você? no que acredita? No que tem fé? Em alienígenas que pousaram na Terra? Não estou aqui pra criticar seu pensamento de ser, mas enquanto VOCÊS não deixarem a gente viver a nossa religião em paz, como VOCÊS querem que o mundo viva em paz? Vocês são hipócritas, pois não sabem nem o que podem pedir para o mundo. Eu sou cristã e nunca falei que um ateu é uma forma sub-humana de viver, pois tenho a plena de coinsciência de que tenho que respeitar a opinião dos outros, apesar de achar que o modo de vida de vocês é uma das coisas mais inúteis que o homem poderiam inventar. Mas, enfim, eu tenho dezesseis anos e já tenho a plena noção de que enquanto houver briguinhas por causa disso, o mundo não se torna melhor. E você? Deve estudar filosofia e não tem a noção disso? Acho que você deveria rever esse seu conceito 'revoltado-sendo-que-não-tem-porque-se-revoltar' . Vê se cresce, porque até eu já cresci.

guilherme disse...

eu prefiro ver de uma forma filosofica,olhar esse assunto,com um olhar diferente e tentar ser o mais coerente possivel! Nietzsche era um cético,mas a um lado bom nisso.por mais que ele na minha concepçaõ estrapole um pouco,justamente por ele ser um extremista.acho que tem fundamento o fato da religiao querer nos privar de nossos sentidos ou prazeres.e para que não se tenhas duvidas,eu sou um católico praticante,e amo a deus acima de tudo(não sou fanatico,e respeito tds as igrejas e religioes,pois acho que estas,são um meio de transcender as nossas fragilidades humanas,para metafisica.em resumo:sou um amante da filosofia,e ao msmo tempo amo deus,provando que a ciencia e a religiao podem andar lado aa lado!).concluo que podemos extrair muito do que nietzche propoe,de modo que,esa extração seja de forma coerente! sou guilhermem e tenho 16 anos obrigaduuuu!

Rafael disse...

Cara, é fascinante como Nietzsche conseguiu trabalhar, naquela época, um tema que até hoje causa grande polêmica. Eu fui criado em família protestante, desde criança educado em meio religioso. Mas com o tempo fui percebendo que a religião não traz benefício algum a ninguém, apenas leva o indivíduo a viver conformado e se calar diante dos problemas que estão por aí. No entanto, não discordo da existêcia de Deus, apenas acho que as religiões atuais trata dele de forma errônea. A religião é um dos maiores problemas do mundo atual. É por causa de pessoas que vêm a sua religião como verdade absoluta no mundo que surgem conflitos religiosos no mundo inteiro. Deus existe, mas a religião há muito tempo se desviou do sentido da busca de Deus.

MariMeaquita disse...

OLHA...eu acho que todo mundo tem direito a respeito, crepusculo dos idolos é uma obra fantastica, mas vamos admitir que alem de extremista, o que ja me incomoda um pouco, o autor se contradiz em diversas passagens do livro, acho valido ler a obra na integra pra quem ainda nao o fez...vale a pena!
mas ei...pessoal, paz....chega de guerra nesse mundo!

M. G. disse...

Deixou bem claras as idéias de Nietzsche, excelente resenha

Jean Tonin disse...

Primeiramente o "Crepúsculo dos ídolos" é uma obra filosófica e só deve ser discutidas por que pessoas que tem o minimo de conhecimento filosófico e histórico pra saber do que se trata o assunto, que é Nietzsche fazendo uma critica a Metafisica, moral e linguagem, Ídolos é um termo pra designa ideias, quem não tem conhecimento de ideias filosóficas não percam tempo lendo-o, E a esses ideais ascéticos não percam tempo com filosofia vocês tem livros que dizem a verdade eterna.

gatinhodanet disse...

As pessoas tinham que saber que isso é uma resenha de Nietzche e não representa, necessariamente, a opinião do autor...

Anônimo disse...

Maravilhoso o comentário sobre a grande obra de Nietszche, pensemos antes em que somos, depois em qual contextos fomos inseridos, depois podemos dizer em que queremos nos tornar.

Gedeon Leal