terça-feira, 10 de junho de 2008

Conto do Casarão


Em uma tarde fresca, estava eu entrando em um casarão com mais umas dez pessoas para passar uma noite, uma semana ou um mês. A aparência da casa era mórbida. Cômodos extremamente grandes, empoeirados e cheios de objetos curiosos.
Dois alojamentos separavam as meninas dos meninos. E tinham também os supervisores do local que colocavam ordem na parada.
Assim que entramos no casarão todos fomos conhecer os cômodos juntos, menos os supervisores. Lembro-me que no alojamento feminino tinha um guarda-roupa muito velho e eu fiquei curiosa para saber se tinha alguma coisa dentro. Assim que o abri senti o cheiro de coisas velhas mais forte do que no restante da casa. Abri as gavetas e haviam roupas. Mas o contraste está que as roupas estavam super novas e com cheiro bom. Eu e outras meninas começamos a olhar as roupas uma por uma e ver se ficavam legais em nós. Saias verdes de prega, roupas de seda escura etc.
Depois fomos conhecer o alojamento masculino e vimos que o quarto deles era bem maior que o nosso, mais arejado e no fundo do casarão (o nosso ficava na parte da frente). Nos parapeitos das enormes janelas com grades haviam pedras semi-preciosas, pedaços de ossos, frascos e mais coisas que não me recordo agora. Pensei se no alojamento feminino também haveria algo nas janelas.
O segundo andar do casarão era reservado aos superiores e a quem já estava lá há algum tempo. Os novatos deveriam permanecer somente na área térrea e nos arredores do casarão.
Depois de conhecer o térreo e nos ajeitarmos em nossos alojamentos fomos passear. Eu estava meio indisposta e fiquei sentada na varanda da frente da casa vendo a paisagem. Algumas pessoas também estavam lá e outras foram conhecer mais sobre o local. Era um fim de tarde como eu jamais havia visto. O ar fresco, a luz ocre, um horizonte de trigo sem fim, uma igreja.
De repente aparece um rapaz meio gordinho espantado com algo que havia encontrado. Eu e os outros fomos diretamente em direção a ele para ver o que era. Ele mostrou uma runa cortada em forma de triângulo. Não me lembro exatamente o desenho dela. Depois dos espasmos que todos tiveram de curiosidade, eu perguntei onde ele havia encontrado a runa e ele disse que haviam aos montes no cemitério atrás da igreja.


Sem pensar duas vezes, tomada de um extremo impulso fui em direção ao local que ele me indicou para encontrar mais runas. Já estava quase de noite, pouca claridade iluminava o céu. Passei na frente da igrejinha, algumas luzes estavam acesa, mas não havia ninguém lá. Mais adiante era o cemiério. Antes de poder visualizá-lo de forma clara, ví um grupo de pessoas mais velhas em um círculo completamente concentradas no que faziam. Não me viram.
O cemitério era o mais estranho que já ví. Havia um laguinho no meio dele e uma ponte clássica veneziana. Atravessei a ponte olhando para o lago e ví que também haviam cruzes dentro dele. Um morro também era parte do cemitério. Subi o morro de terra continuando a olhar o cemitério e seu chão, tentando encontrar alguma runa. Ao chegar ao cume do barranco até onde o cemitério se estendia, ví algumas runas mas elas estavam fora do meu alcance. Ao tentar mesmo assim pegá-las, ví um caixão negro semi-aberto. Algo estava dentro do caixão e quando me viu tentou se esconder com tremenda infelicidade, pois a tampa do caixão fez um rangido enorme, mas mesmo assim "a coisa" conseguiu se esconder. Eu continuei a olhar para esse caixão tentando ver alguma coisa, mas a visibilidade da luz do anoitecer estava indo de mal a pior. Foi aí que comecei a olhar para o chão próximo de mim e ví runas e crânios. Lindos, brancos, secos e limpos. Peguei algumas runas e um crânio. Saí dalí já meio assustada pensando que o lugar era mal assombrado e que a noite não seria nada tranqüila para os habitantes do casarão.
Enfim cheguei à varanda. Não havia ninguém mais por lá. Pensei que se algum supervisor me visse carregando um crânio eu estaria perdida ou acusada por qualquer coisa. Então coloquei o crânio e as runas no parapeito da janela do alojamento feminino, mas eu sabia que o crânio não iria passar pelas grades. Assim que me virei da janela para a varanda me deparei com um homem. Ele parecia nativo dali e me encarava de uma forma inexpressiva mas curiosa. Ficamos parados nos olhando por um minuto ou mais até ele se aproximar mais um pouco e eu não me mover, apavorada.
-Sabe de quem é o crânio que você profanou do cemitério?
-Não.
-É meu.
Como assim eu estava falando com um espírito?! Eu estava com medo, em posse do crânio dele, mas a coragem me tomou, aquilo parecia um teste, uma prova. Sem pensar, perguntei:
-Como foi que você morreu?
Ele demorou um pouco para responder, parecendo pensar em como responderia de uma forma que eu entendesse.
-Foi assim...
Uma faixa de fogo atravessou o ombro direito dele e o pescoço. Uma luz muito forte emanou do fogo e de repente a faixa se tornou negra como cinza. Ele a arrancou e continuou normal como estava, olhando pra mim, agora com um olhar piedoso.

Acordei.

(Deanne F. - 23/11/2007)

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