segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Dostoiévski - um jogador compulsivo

O livro O Jogador é, ao mesmo tempo, autobiográfico, genial e uma das mais perfeitas histórias literárias já contada por um ser humano.

Fiodor Mikaílovich Dostoiévski

Nascimento- 11 de novembro de 1821, em Moslovo.

Falecimento- 9 de fevereiro de 1881, em São Petersburgo.

Seu primeiro contato com a roleta - Dostoiévski era jogador compulsivo

O francês Louis Blanc, fundador do jogo da roleta organizado, proibido de continuar explorar seus cassinos em Paris, ambicionou a Alemanha, montando quatro casas famosas de jogos nas cidades de Homburg, Wiesbaden, Baden-Baden e Ems.

Daí começou a famigeração e o vício coletivo, destrutivo, algoz. Com seu prestígio, manteve suas casas de jogos até 1868. Até que uma lei federal, não obstante todo o prestígio do maldito “cassineiro”, interditou e fechou seus cassinos em todo território alemão.

Esse homem, francês terrível e inescrupuloso, com o apoio do príncipe Carlos de Mônaco, fundava então seu mais extraordinário e famoso cassino na cidade de Monte Carlo.

Os russos tornaram-se freqüentadores assíduos do chamado balneário, que na verdade nada fazia para relaxamento do corpo, muito pelo contrário, saiam desmoralizados, corpos em frangalhos, bolsos vazios. Quando não ficavam por lá mesmo, debaixo da terra.

Dentre esses russos viciados, esse maldito francês arrebanhou nosso querido e inestimável Fiodor Dostoiévski, que se deixou seduzir pelas roletas, pelo fascício dos panos verdes, um paradoxo para um dos maiores escritores do planeta, se não for o maior, ao menos no quesito só idéias geniais para romances, já que é constatado que é o escritor de mais proliferação de idéias que uma mente humana poderia ter para literatura. Essa informação é oficial no mundo inteiro, querido leitor.

Certamente haveremos de prestar reverências eternas a Dostoiévski, autor de Crime e Castigo, Os irmãos Karamazov, Noites Brancas, Memórias do Subsolo, O Idiota, O Crocodilo, Nietotchka… (quero ler toda sua obra antes de partir).

Atormentado em toda sua vida, desde jovem preocupava-se com questões materias, em meio a turbilhão de conflitos internos e espirituais. Mas sabe-se também que sua queda para jogo já vinha de há muito, pois passou a juventude a jogar dominó e bilhar, sempre em busca de lucros. Talvez desta forma tentasse fugir de sua mente gigantescamente criativa, uma alucinada máquina de criar.

Desde que voltara da Casa dos Mortos (um de seus primeiros romances), trazendo sua mulher, uma franzina e tísica viúva louca, com o filho desta, e sofrendo terrivelmente com sua epilepsia, migrar para a Europa Ocidental, tornou obsessão do escritor de O Jogador.

Escrevia milhares de artigos, mas estava sempre com dívidas. Assim, no dia 7 de junho, deixou sozinho a Rússia, com algum dinheiro adiantado por seus próximos romances.

Viaja por países como França, Inglaterra, Itália, Suíça, Alemanha. Deslumbra-se com o pano verde das jogatinas. Ingênuo ainda, joga e ganha bastante dinheiro.

Esse é um trecho de uma curiosa carta que Fiodor Dostoiévski escreve à cunhada de Paris após contato com a roleta:

Durante quatro dias observei as mesas de perto. Havia ali centenas de jogadores, mas, palavra de honra, só duas pessoas sabiam jogar! Era uma francesa e um lord inglês. Entendiam do jogo e nunca perdiam, pouco faltando para rebentar a banca. Peço-lhe, não creia que eu estava radiante de alegria porque acabava de ganhar em vez de perder, que eu me julgue um grande conhecedor do segredo do jogo. Esse segredo, aliás, bem o sei, é o que há de mais simples e estúpido. É preciso unicamente domínio sobre si mesmo e, sejam quais forem as peripécias do jogo, a gente evitar o entusiasmo excessivo. Eis tudo. Esta regra impedirá você de perder, fazendo-lhe necessariamente ganhar.

Daí pra frente, só sofrimento e miséria, por dez anos esse vício, mais sua doença incurável, fizeram de Dostoiévski um sofredor, mas o gênio fez de toda essa amarga odisséia sua fonte de inspiração literária.

Na continuidade, falarei do referido livro - O Jogador - e verão como essa inspiração divina se manisfestava, e como esse miraculoso processo inspirador excitava as mais profundas e ultra-sensíveis fibras de criação do escritor.

Não por acaso, Fiodor Dostoiévski é o escritor de maior número de obras literárias que se obteve de um cérebro humano.

Autores que tiveram influência de Dostoiévski

  • Marcel Proust
  • Franz Kafka
  • Albert Camus
  • Nietzsche
  • Sartre
  • Freud
  • Yukio Mishima
  • Aleksandr Solzhenitsyni

Um gênio que fez de suas mazelas, fonte de inspiração, quando qualquer mortal se abateria em fracassos, debatendo-se em desespero.

Mas gênio é gênio.

Nenhum comentário: