"O deus russo já se rendeu à ´vodka barata`. O povo está bêbado, as mães estão bêbadas, as crianças estão bêbadas, as igrejas estão vazias, e ouve-se nos tribunais: ´um balde de vodka ou duzentas chibatadas`. Oh, deixem crescer a geração! Só lamento que não haja tempo para esperar, senão era só deixá-la ainda mais beberrona!" (Dostoiévski, "Os Demônios", pg. 409)
Sempre achei essa fala do personagem Piotr Stiepánovitch uma grande demonstração do niilista que já perdeu as esperanças em tudo assim como um alcoólatra que não mede as consequências do próximo gole.
Essa vodka barata se enquadra perfeitamente com a ilusão que toma contado povo. Não perdoa nem mães nem crianças. A justiça já ficou ao descaso. O justo não necesariamente é o certo. Seé que devemos usar a lógica do certo e do errado quando tratamos de niilismo.
Não há mais tempo para crescer ou para tentar ser algo diferente do trágico.
O céu atual é niilista ao extremo, mas não porque perdemos os referenciais morais, tampouco Deus. A ordem contemporânea não destrói a moral, apenas tornou-a esvaziada da tradição, modernidade radicalizada e não eliminada.
E se o niilismo se revolta contra a felicidade não é porque consegue vê-la como um artífice engendrado das entranhas da ciência e do progresso modernos. Contrariamente, o niilista é, no limite, um ressentido da felicidade. Acredita tanto na felicidade que nega, já que o “quadro feliz” pintado pelo niilista não pode ser alcançado pois não faz parte do real. O niilista não nega possibilidades depois de pensadas, nega porque a negação é sua própria lógica diante do mundo: manifestação exuberante da passividade e da fraqueza.
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